quarta-feira, 16 de julho de 2008

insônia

Eu ando
302 vezes o espaço
entre o meu quarto
e a geladeira.

Engulo a sede
que não me deixa dormir.
E não é a sede.

Na luz fria.
Na pálida
e malcheirosa luz
vou buscar alimento.
Na fome que me desperta.
Leite e pão:
não é a fome.

O frio dos pés no chão
e os azulejos no escuro.
Visto as meias, mas não é o frio.

Tateio o colchão.
Eu ando
303 vezes
o espaço
entre meu quarto e a geladeira.
Não é o teu corpo
congelado
detrás das portas.

A paredes tortas
as muriçocas, nem a barriga ôca.
Eu ando 304 vezes o espaço
Entre meu quarto
E a geladeira

Que a fome que me acorda
sem nome, sem palavra,
é, aos poucos,
o que me resta.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu pisco 300 vezes enquanto leio de madrugada no plantao
A barriga ôca dessa madrugada fria nem se manifesta
Não cozinho muito bem e cada vez menos
Mas a fome dessas coisas de sempre
Eu mato pouco a pouco... beliscando, plantao por plantão