segunda-feira, 23 de agosto de 2010

fantasia



Eu quero me arrepender.

tropeçar nas boas maneiras
se estabacar nas calçadas

aparecer a calcinha

ser apontada
na rua 
e desdizer
o rubro às bochechas
que escreve na testa.

Perder, gastar borracha,
riscar as cartas de amor
- quando já se tiverem enviado!
ridícula, esmurrar a parede,
tremer o corpo, rasgar,

rasgar, rasgar, 
rasgar
o arrependimento
bêbado,

entre pernas de palavras alheias,

sóbrio,
entrelinhas 
malditas
de quem enxerga demais.

Sou mais escrever com as secreções
deste destino escroto,
que chorar no escuro e secreto.
Sou mais a vida
dos fatos malfalados
do que das falas fadadas
a nada.

E desse desprendimento
sem pudor, corrimento
de memória, fica cicatriz
no corredor de esquecimento.
Arrepender-se com dor
para marcar a história.
Arrepender-me sem
arrependimento.

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