terça-feira, 7 de outubro de 2008

reverberação

aqui,

pertinho

escuta o coração

batendo

na água

como uma pedrinha

que quica

quica, quica,

e depois

afunda.

sábado, 4 de outubro de 2008

quem?

todos escrevem poemas.

Quem estará nas ruas?
quem apertará os botões
das máquinas de fabricar,
das máquinas de limpar,
das máquinas de rodar
o mundo?
todos escrevem poemas.

Quem viverá, real e convicto
material e invicto
sem escrever poemas?

Quem empurrará os carrinhos de bebê?
quem plantará os legumes?
quem contará o troco?
quem subirá no palanque
e quem o aplaudirá?

Quem passeará pelos supermercados
e abrirá as torneiras, as portas, as bocas,
nas ações cristalinas, cristalizadas,
do banho, do trabalho, da comida.

Quem nas horas duras,
quem, nas horas vagas,
quem é que ainda tem horas vagas?
todos escrevem poemas.

Quem, ao se deitar,
quem, ao passar,
quem ao viver
não estará morrendo?
Um dia após o outro
contando, regressivos,
as páginas para o fim
do livro.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

asfalto

pelas pedras portuguesas
pretas
trepidam, intrépidos,
os travalínguas.

fios de hélio
puxam pro alto
no emaranhado
de marionete.

eu, tropeçando
nos postes
como se andasse

de patinete
não vou a lugar
alugar
nenhum.