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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mar que não tem
lugar para o trem
as meninas vão
os netos vem...

Três Rios
Três Filhas
Três Mulheres-ilhas
Maravilha nas rugas,
sorrisos em fios

Merenda e cartilhas,
Carteado e compota
Jabuticaba, fantasias
no saco guardado do sótão

Memória não fica velha.
Basta um calor
pra acender a centelha.

domingo, 8 de agosto de 2010

adulta

estou aprendendo:
é preciso abrir os livros,
senão eles mofam.
é preciso regar as plantas,
se não elas morrem.
é preciso sorrir,
se não esquecemos.

é preciso cuidar, a cada ato,
que, se deixar depositar ferrugem
nas articulações do tempo,
não reimprimem os livros
não ressucitam as plantas
não volta atrás, é irreversível.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

poema quase funk

A unha cresce
A fruta apodrece
Ai se eu soubesse
O processo é esse

A gente amando
Não se aborrece
O tempo manda
a fila anda.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

passou

O dia passou

A noite alcansou

Cansou, insistiu

Pediu, perdeu

Resistiu, cegou
...
Matou e morreu ou

Nunca chegou?


Ou fui eu

Quem piscou?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

post mortem

Visito o baú das coisas perdidas:
Não se distingue das prateleiras.
O baú tomou o quarto.
Visito o quarto das coisas perdidas:
Quadros que tomam paredes inteiras
paredes sem beiras se tornam internas.
Há cartas cujas palavras foram lavadas
E partes de objetos tornadas invisíveis.
A poeira cobriu os lensóis.
Os lençóis, invencíveis, cobriram a vida.
Visito a vida das coisas perdidas:
à primeira vista,
memória sem pista,
o anel que tu me deste
e não lembro quem foste.

Vão-se os dedos,
ficam os anéis.

domingo, 28 de junho de 2009

brevidades

Eu me entrego.
Eu me largo de todo
para tudo que seja breve.

Na brevidade dos dias,
eu corro
e na leveza da correria
meus prantos enxugam
o peso e o estorvo.

E se das coisas mais queridas
a vida leva o desforro,
é nas despedidas que encontro os louros.
Fixo-me de partida.

O vento que carregue
toda gravidade do corpo
para faze-me pouca
em vaidade, certeza, concretude.
Tudo o que é certo,
estraga sua beleza,
enquanto aquilo que é pouco,
traz na finitude
o gôzo da sobremesa
em comeditude.

E para que a pena
não fixe no poema
com desejo satisfeito
em completude,
.
.
.

(reticências apenas)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Há um terror

Há um terror escondido nos cantos
de rodapé, (lá) onde o dia acumula poeiras,
este universo onírico,
vertiginoso e sempre em
revolução –
– da queda
ao abismo invertido em que infinitamente
caimos para fora da gravidade, flutuando
(flutuando para o fundo do abismo e
caindo estarrecedoramente no céu duro);

Há um terror e um mistério:
De viver muito e isso ser
Muito pouco

pode demorar

Ah, insônia
esta vil companheira!
Que me dá e tira
todos os dias futuros
numa noite só.

Ah insônia,
esta pouca sorte!
Temor dos piratas
e monstros
que eu nunca fui.

Ah insônia,
antecipação da morte
que pode demorar
- e até lá, o que faremos?

On/Off

Que ninguém interrompa
quando o meteoro se chocar
na terra. Que ninguém
se choque. Que ninguém aperte
o interruptor.
Que ninguém se rompa
em lágrimas.

Contando o tempo
em maços, escarros
espaços, em passos

não dura um cigarro
- a vida é dura.

domingo, 25 de janeiro de 2009

alfarrábios

Outubro anotado
com só
três poeminhas,
coitado!

Não tinha agenda
que explicasse.

Perdi o talento
perdi a doçura
perdi o meu tempo
comendo biscoitos.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

caminhos

o taxi pergunta
se é lá pra perto
da cartomante.

Eu,
tanta incerteza,
ganho de brinde
um destino.

domingo, 30 de novembro de 2008

tempo para o poema

não há tempo para o poema
quando tem-se que depilar as pernas.
Quando a casa é suja, e a barriga ronca
e a ferrugem impregna na janela de alumínio.

Entre o escovar de dentes e bater de portas,
entre o colesterol alto e o salto no asfalto
encerra-se o poeta.
A vida aflita não comporta
o que importa para a escrita.

O sorriso de leite
no primeiro dente do filho que chora;
O amor, que já foi embora;
A eterna sensação de que demora:
o que se vive, não se escreve.
No registro se perde
o quanto eu existo.

desisto!

domingo, 9 de novembro de 2008

tombo

Lembro gostoso
de quando ainda era constante
aprender

Amarrar os cadarços
soletrar os nomes
levantar sem chorar

A mãe soprava o mertiolate:
não vai arder

Na gaveta dos remédios,
hoje eu alcanso o armário
mas não acho band-aid
que ajude.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

é

o dia que não passa
a fila que não anda
o amor que não chega
o telefone que não toca
o dinheiro que não supre
a vontade que não acaba
o cabelo que não cresce
o corpo que não funciona
a dor que não justifica
a vida que não dura.

sábado, 4 de outubro de 2008

quem?

todos escrevem poemas.

Quem estará nas ruas?
quem apertará os botões
das máquinas de fabricar,
das máquinas de limpar,
das máquinas de rodar
o mundo?
todos escrevem poemas.

Quem viverá, real e convicto
material e invicto
sem escrever poemas?

Quem empurrará os carrinhos de bebê?
quem plantará os legumes?
quem contará o troco?
quem subirá no palanque
e quem o aplaudirá?

Quem passeará pelos supermercados
e abrirá as torneiras, as portas, as bocas,
nas ações cristalinas, cristalizadas,
do banho, do trabalho, da comida.

Quem nas horas duras,
quem, nas horas vagas,
quem é que ainda tem horas vagas?
todos escrevem poemas.

Quem, ao se deitar,
quem, ao passar,
quem ao viver
não estará morrendo?
Um dia após o outro
contando, regressivos,
as páginas para o fim
do livro.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

setembro

Primavera.
Setembro chegou nublado
com um medo às portas.
De se perder
em amarelos pálidos
até empalidecer,
de não amanhecer
de jogar fora
de sonhar em fuga.

De ir ventando,
vela em vela,
o desejo sem vontade.
Sóbrio, raquítico
paralítico.

Faz frio.
As horas escapam
porque não há
quem as prenda.
Puxo o cobertor pacificamente.
Amanha, o dia
virá sem surpresas:

Setembro ou não Setembro
há sempre o tempo e o medo.

De não saber querer
à vontade.
Sem papas na língua,
sem papos.
Querer,
até perder
a linha
e o prumo
do poema.

domingo, 14 de setembro de 2008

contagem

Não vou calçar os chinelos
nem fazer as compras;

Não vou abrir a janela,
previsão do tempo
não é horóscopo.

Tanto faz
se é domingo:

não conheço
quem vá a missas.

conheço quem vá às pressas,
conheço quem fique às moscas.

sábado, 6 de setembro de 2008

confusão

Não sei o que aconteceu.

Comprei um vestido,
o café esquentou,
enquanto eu anotava
um sorriso no canto
do caderno
que não era moleskine.
Tomei um banho,
você se vestiu,
enquanto eu plantava segredos
no canto do travesseiro
que não era seu
mas era.

tocaram à porta
o cano estourou
lavaram a fronha
o táxi chegou
manchou o vestido
não tinha mais jeito
você foi embora.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

cresce de novo.

Os cadernos embaixo da cama mofaram:
depois da enchente, não foram abertos.

A água secou, o cabelo cresceu,
as estantes acumularam livros.
Os cadernos continuam fechados.

Medo de ver os cadernos enrugadinhos,
se estirando no sol feito carne-seca
e eu me esticando
feito lagartixa
sem rabo, nem pé, nem cabeça.

sábado, 9 de agosto de 2008

não aconteceu

Não aconteceu.
porém o segundo se prolonga
na descrição do segundo.
A ação
estica os braços para o mundo
enquanto perde o tempo do toque.

A ação não alcansa.
o gesto descansa em não existir.
desiste o ato em vão.
O buraco é o espaço
entre o gesto e a mão.

Não aconteceu.
ficou pendurado,
que nem dente mole
que nem gente que
não fode
mas não tira o olho.

Dessas coisas
(coisas de ainda)
não se fala.
E o que entala na garganta,
a gente bebe.
Esse momento
é a distância entre o tempo
e o que o tempo mede.